A Metamorfose x A Mosca
Recentemente, tive a oportunidade de ler A Metamorfose, de Kafka. Um impressionante conto que me lembrou bastante um filme que eu havia visto há meses atras, pela primeira vez: A Mosca (1986, de David Cronenberg), que por sua vez é refilmagem de A Mosca da Cabeça Branca (1958, com a lenda Vincent Price).
Enquanto o longa mostra a penosa transformação do cientista Seth Brundle (interpretado por Jeff Goldblum) numa mosca doméstica totalmente asquerosa, o livro, em seu primeiro parágrafo, já narra o caixeiro-viajante Gregor Samsa transformado em um monstruoso inseto com dorso duro e inúmeras patas pequenas e finas. Essa é umas das grandes diferenças entre as obras, mas é interessante notar que, tanto em um, quanto em outro, a metamorfose não se limita somente na modificação física.
Outra diferença principal que poderia citar é o contexto familiar que o livro mostra. A dor de Samsa de ser rejeitado e maltratado pelo pai, de querer ver a mãe e a sua relação com a irmã é muito tocante. Toda a reação da família leva a pensar que o rapaz era apenas o sustento monetário da casa. Pra mim, fica uma análise profunda da sociedade e comportamento.
O longa de 1986 não tem esse apelo familiar, mas a modificação psicológica é sentida de uma forma diferente. Lentamente, quando o cientista vai perdendo o cabelo, dentes, membros e se desfigurando cada vez mais, ele vai se distanciando daquilo que foi um dia uma figura humana, e o desejo da mosca-humana de se fundir com a namorada e o filho, realça bastante no que ele se transformou.
“Estou dizendo que sou um inseto… que sonhou ser um homem e adorou o sonho. Mas agora o sonho acabou… e o inseto acordou. Estou dizendo… que vou machucar você se ficar aqui.”
São duas obras, de dois mundos diferentes, dois clássicos. Ambos tocam o receptor com uma história dolorosa e pessimista, mas com análises diferentes. Tenho a certeza que você jamais verá um inseto da mesma forma que antes. Pra quem não conhece: recomendadíssimos!
Escrevendo este texto, fiz uma busca no google e descobri O Garoto Verme (2008, de Hideshi Hino). Pelas críticas que li, pelos scans que pude ver e a comparação à obra de Kafka, vale muito a pena ler – entrou pra imensa lista de coisas que pretendo conhecer.
Postado em maio 15, 2009 às 23:41 e arquivado sobre DVD, Livros. Você pode acompanhar qualquer resposta por RSS 2.0 feed. Both comments and pings are currently closed.
maio 31, 2009 às 22:10
Poxa Marquinhus, tu escreves tão bem… Parabéns pela crítica. Já pensou em se tornar um profissional nessa área?
junho 2, 2009 às 23:21
Confesso que só conheço o filme em destaque, mas conheço o livro citado. Ótima obra de verdade. Sou fã do Kafka. Precisaria ver os filmes. Devo dizer que está bem elucidado. Parabéns, cara!
outubro 22, 2009 às 04:22
Atualiza isso aqui!!!